Claramente, neste caso, existem fatores subjacentes que vão além da simples questão demográfica, como o próprio regime político e as suas ideologias, que muitas vezes adotam posturas contrárias a questões de diversidade, como os direitos LGBTQIA+. No entanto, a questão que se coloca é: será que os países mais desenvolvidos, como Portugal, enfrentarão - se já não estão a enfrentar - desafios semelhantes no futuro, em função das baixas taxas de natalidade que se verificam atualmente? Vamos tentar desconstruir esta questão.
Com a contínua diminuição da taxa de fecundidade, especialmente nas sociedades mais urbanizadas e economicamente desenvolvidas, surge a necessidade urgente de encontrar soluções viáveis para garantir a sustentabilidade social e económica. Uma verdade inquestionável é que, sem pessoas, um país torna-se apenas um pedaço de terra; é a sua população que lhe dá vida, história e futuro em todos os aspetos — sociais, culturais e económicos. Portanto, para a sua sobrevivência, é fundamental considerar políticas que promovam o aumento da população.
Uma das "soluções" mais "debatidas" é o aumento da imigração, que pode compensar a falta de mão de obra e ajudar a equilibrar a pirâmide etária, cada vez mais desproporcionada. Este caminho, contudo, não está isento de desafios. A integração de novos fluxos migratórios pode gerar tensões sociais, culturais e económicas, como ilustrado em diversos casos recentes (exemplo aqui).
Além disso, o envelhecimento acelerado da população e o consequente aumento dos encargos com a segurança social tornam urgente a implementação de estratégias de longo prazo para mitigar os efeitos destas tendências demográficas. A imigração é uma solução viável nos dias de hoje (e boa!), mas não há garantias de que o será sempre. Um país pode ter falta de mão de obra e, simultaneamente, não oferecer estabilidade ou atratividade suficientes para atrair imigrantes suficientes. Aliás, atualmente muitos imigrantes veem Portugal apenas como uma porta de entrada para outros países europeus economicamente mais atrativos (meeramente um meio para atingir um fim).
Assim, não podemos pensar na imigração como uma solução definitiva. É necessária uma abordagem que inclua políticas públicas que incentivem a natalidade e sustentem as famílias. Isto implica investimentos em áreas como habitação acessível, creches gratuitas ou subsidiadas, horários de trabalho flexíveis e apoios sociais eficazes, entre outras que aparecem nos nossos manuais (e que os alunos terão de saber para o teste).
No entanto, e se não chegar?... Temos atualmente vários países, bem economicamente, com vários incentivos, que pelo progresso e desenvolvimento da sociedade atual (com novos objetivos, desejos e opções...) não tem "chegado". O mundo não é igual há 500 anos, 100, 50 e até quero arriscar que o mundo não é igual ao de 1 ano atrás, a mudança é constante e por isso surge-me uma questão inquietante: será que, no futuro, a adoção de medidas mais controversas no que diz respeito à natalidade poderá tornar-se uma realidade? Poderemos assistir à implementação de políticas mais radicais, que incentivem ou até mesmo imponham certas escolhas familiares, como já ocorreu em contextos históricos diversos? (exemplo atual*)
Até que ponto as sociedades estarão dispostas a aceitar mudanças profundas nas políticas de natalidade, caso as consequências do envelhecimento populacional e a falta de mão de obra ativa tornem insustentáveis os sistemas de segurança social e o crescimento económico?
Ou será que a solução passará inevitavelmente por uma dependência crescente da imigração, com todas as implicações sociais e culturais que isso acarreta?
Como sabes, este tema toca-me profundamente, pois tive de abdicar de um trabalho onde me sentia completamente realizada, por não ser compatível com a maternidade.
ResponderEliminarObviamente que as políticas natalistas não são ideias. Infelizmente, nunca teremos um Mundo perfeito, mas acredito que há muito que se possa fazer para melhorar esta conjuntura. E se existisse a possibilidade de reduzir a percentagem de trabalho ou existissem mais creches com horário alargado? A mutação dos horários laborais são uma realidade, temos cada vez mais pessoas a trabalhar por turnos e nem todos têm suporte familiar. Claro que existem muitos outros fatores que se podem melhorar.
Relativamente à imigração que como referiste, tem ajudado a colmatar este desfasamento. A meu ver, todas as pessoas que venham com vontade de trabalhar e respeitar a nossa cultura, são bem vindas. Aliás, até deveriam ter mais políticas de integração na nossa comunidade para que se sentissem parte da nossa nação, mas mais uma vez, nem os nossos muitas vezes estão integrados :(
A partir do momento que exista compreensão e respeito pelo próximo, todas as mudanças são bem vindas :)
Daniela, por exemplo, em Tóquio, no Japão, vão adotar a semana de 4 dias de trabalho, para tentarem aumentar a natalidade. É uma medida que pode encaixar no que falaste sobre a redução do tempo de trabalho.
Eliminar